sábado, 23 de outubro de 2010

Fora de casa


A primeira pergunta que a exposição Casa nos faz diz respeito a sua natureza indistinta: nem tudo ali, a rigor, é arte. Neste ponto, sejamos óbvios: a Casa não é um Museu; ou poderíamos imaginar que se trata, antes, de um Muzeu, escrito com a grafia errada, se visto, mas com o mesmo som, se lido, para lembrar o ensaio de Roland Barthes sobre Sarrasine, de Balzac, intitulado justamente S/Z. A Casa deve provocar uma experiência – e provoca com certa radicalidade, mas também com cuidado – que faz o público justamente oscilar entre a posição mais contemplativa, de testemunha; e outra, mais participativa, digamos, de cúmplice. E é esta experiência – que só pode ser medida e vivida pelo próprio visitante – que faz da Casa, afinal, uma casa.

Isso pode ser dito, como tentativa de representar uma experiência, de modo ainda mais simples: todos os móveis, por exemplo, continuam cumprindo suas funções reais (ou pelo menos grande parte deles) mesmo após terem sofrido intervenções com os vídeos – os vídeos, aliás, quase sempre, tematizam os próprios móveis dentro do qual estão inseridos, em um jogo de presença e virtualidade, dando uma volta a mais no parafuso que aproxima arte e vida. Em outras palavras, o mesmo fogão que contém um vídeo no forno - vídeo que permanece em loop, funcionando durante as quatro horas de exposição – serve também para a preparação de um jantar, feito por uma das bailarinas, que geralmente é servido no final da noite. No dia da abertura, foi preparada uma sopa, além de pipoca e suco de laranja nos intervalos; no dia seguinte, bolinhos de arroz.

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